segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Cerveja especial?

Coluna Happy Hour publicada por Ronaldo Morado na Revista Roteiro em 15/11/2015


Inicio hoje minha participação nesta revista para falar do melhor dos assuntos: cerveja, essa bebida milenar essencialmente ligada à confraternização, celebração e alegria.

Nós, brasileiros que tanto nos orgulhamos de sermos um país tropical, não sabemos que, apesar de grandes fabricantes e consumidores (3º no mundo), somos bebedores modestos de cerveja (27º no mundo). Venezuelanos bebem mais cerveja per capita do que brasileiros. Essa situação é consequência do pouco conhecimento que temos sobre essa maravilhosa bebida.

Por exemplo: Poucos sabem que existem mais de 80 estilos de cerveja, dos quais a maioria é milenar. Exemplifico: Bock, Pale Ale, Stout, Porter etc. Desde os primórdios da história da bebida no Brasil – Século XIX – vivemos uma verdadeira ditadura de um único estilo de cerveja: a Pilsen. Muito embora seja, hoje em dia, o estilo mais popular no mundo, é muito jovem, pois surgiu apenas em 1842, numa pequena cidade da atual República Checa.

Essa ditadura centenária da Pilsen no Brasil provocou sequelas. O desconhecimento do brasileiro é tal que passou a classificar de “cerveja especial” todas aquelas cujo estilo não seja Pilsen. Para complicar ainda mais a cabeça das vítimas dessa ditadura, surgiram alguns conceitos que mais confundem do que ajudam: algumas cervejas são ditas “artesanais”, outras chamadas de “gourmet” e algumas até são classificadas de “premium”.

Estimuladas por essa oportunidade de diferenciação, muitas cervejarias utilizam essas palavras principalmente como estratégia de marketing, numa tentativa de se destacar no mar da mesmice no qual o mercado brasileiro se transformou.

Esclarecendo:

Artesanal – palavra aplicada à cervejaria e menos à cerveja, indicando que ela se orienta pelos conceitos americanos de “Craft Brewery”, ou seja, não pertence a um grande grupo econômico;

Gourmet – indica que aquela cerveja foi elaborada com intenções de harmonizações culinárias, própria para degustação, com qualidades sensoriais específicas;

Premium – qualificação dada pela própria cervejaria a um ou mais de seus produtos para diferenciá-los por melhor qualidade de ingredientes ou embalagem.

Nomenclaturas, classificações e glamourizações à parte, muito dessa “onda” é mérito do movimento das microcervejarias que está apresentando a cultura cervejeira ao brasileiro. Às vezes referido como “revolução cervejeira”, esse movimento tem muito de inovação e bastante de guerrilha.

Daí concluímos que o senso comum identificou que as chamadas “cervejas especiais” são, em geral, todas aquelas cervejas que não pertencem ao estilo Pilsen brasileiro (loira comum) e preferencialmente não sejam produzidas por uma grande cervejaria.

Mas ainda restam algumas questões. Essas cervejas “diferentes” são fortes ? Nem sempre. Entre as nomeadas “especiais” são ofertadas variações em sabor, aroma e teor alcoólico para todos os gostos. Afinal, quase uma centena de estilos, associados à enorme variedade de receitas, tornam infinitas as possibilidades.

Essas cervejas são caras? Nem sempre. Mas há de se ter em conta que a referência de preço não pode ser a cerveja popular produzida em alta escala e vendida no atacado. Há importantes considerações de custo de produção e de qualidade a serem feitas. É preciso ponderar essa questão baseado em uma situação similar como a da escolha entre um vinho de garrafão popular versus um Cabernet Sauvignon de média qualidade. É nesse cenário que a análise comparativa deve ser feita. Mas a conclusão é individual.

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