segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A onda das cervejas mais que especiais

Artigo publicado no Água na Boca, por Ronaldo Morado, fotos por R. Ribeiro



Durante quase toda sua história a humanidade se reuniu preferencialmente em três ambientes: as academias, as igrejas e os bares. No Brasil, especificamente, o boteco ou botequim se tornou uma instituição popular em todas as camadas sociais, presente em todas as cidades – independente de sua dimensão – e de caráter democrático, por ser um local de confraternização e lazer.

De formatos e configurações diferentes – boteco, choperia, pub, bar-empório – os bares se tornaram pontos de convergência das pessoas cujos principais objetivos são relaxar, encontrar, conversar, paquerar, conspirar, enfim, socializar sem maiores compromissos.

Como personagem central do típico bar brasileiro, a cerveja tem uma relação direta com a descontração do local, seja nas choperias de fluxo contínuo de tulipas “bem servidas”, seja nos tradicionais botequins de garrafas super geladas.

Nos últimos dez anos, uma verdadeira revolução cervejeira está transformando a cena dos bares brasileiros, modificando a oferta de produtos e refinando costumes e comportamentos. Esse movimento, iniciado nos Estados Unidos há mais de 30 anos, contaminou o Brasil e provocou uma onda de empreendedorismo em toda a cadeia fornecedora, desde os cervejeiros caseiros, passando pelas microcervejarias e chegando à mesa dos bares e do consumidor.

Em Brasília temos assistido ao nascimento de vários locais com oferta das chamadas “cervejas especiais”, que trazem não só produtos diferenciados como também uma nova proposta de ambiente, com bastante juventude, clima alternativo e inovador. Geralmente afastada das grandes cervejarias, a nova geração de bares aposta na enorme diversidade de produtos e estilos de cerveja, em geral desconhecidos dos brasileiros.

Acostumados a mais de um século de “ditadura” das cervejas do estilo Pilsen, os brasileiros têm se surpreendido com a enorme variedade de estilos – são mais de 100. A surpresa com essa “novidade” é tanta que, aqui, apelidou-se de “cerveja especial” tudo o que não é a loira tradicional.

Outras capitais brasileiras, como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, receberam as primeiras ondas dessa tendência de bares e empórios cervejeiros especializados já na década de 1990, com lenta expansão até recentemente, quando um verdadeiro tsunami invadiu as esquinas e calçadas.

Brasília oferece hoje boas opções de bares e empórios com esse espírito cervejeiro. Alguns nasceram como empório, outros como bares, mas todos têm em comum o perfil da comunidade cervejeira: alegria de compartilhar informações sobre cada garrafa, cada estilo, cada cerveja, enquanto se contam boas estórias.

O Santuário, da 214 Sul, que se intitula “casa de cerveja”, é iniciativa de três amigos apaixonados por cerveja: Marcius Fabiani, Daniel Amaro e Rodrigo Baquero. Fundada em junho de 2014, possui 12 torneiras de chope, sempre servindo estilos diferentes em um ambiente descontraído com o melhor do rock alternativo. Além dos chopes, há uma excelente variedade de cervejas que podem ser acompanhadas por empanadas, goulash e até brownies feitos à base de cerveja.

Torneiras de chope do Santuário, onde é possível encontrar até brownies à base de cerveja


O Malbec Beer iniciou suas atividades em março de 2013, no térreo do Hotel Saint Moritz, como hobby de dois irmãos que vieram do Ceará há 18 anos. À frente do negócio, Lindenberg Aquino se surpreendeu com o sucesso do bar, frequentado por maioria de não residentes na cidade. Localizado no Setor Hoteleiro Norte, oferece uma ampla variedade de cervejas que podem ser acompanhadas pelas linguiças e salsichas Berna com pão francês e mostarda, de acordo com o padrão suíço.

Antes um hobby, hoje um bar de sucesso pilotado por Lindenberg Aquino, o Malbec,
do Hotel Saint Moritz, é frequentado principalmente por não residentes em Brasília


O Grote Bier começou como um empório na Asa Norte, em 2010, e agora está também no Setor Noroeste com uma loja que é um misto de bar e empório. Paula Figueiredo, gaúcha de Pelotas, é uma empreendedora nata e acredita no potencial da cidade para esse tipo de cerveja. Com bastante oferta de cervejas e dois bicos de chope, é muito procurado também pelo eisbein e petiscos de filé.

Paula Figueiredo, gaúcha de Pelotas, é quem comanda o Grote Bier, que começou
na Asa Norte, em 2010, e acaba de abrir um misto de empório e bar no Setor Noroeste


Acompanhando a tendência dos food trucks, Brasília foi uma das primeiras cidades a ter uma Kombi cigana, oferecendo excelentes opções de chope. A iniciativa de três amigos – Eduardo Golin, Heitor Heffner e Marcel Castelo Branco – colocou na rua, em junho de 2014, a Corina Cervejas Artesanais, agora com sete bicos de chope. De terça-feira a domingo, toda semana, o bar ambulante estaciona em locais anunciados pelo Facebook, onde é seguido por uma numerosa legião de fãs.

O Pinella, da 408 Norte, é um gastropub (bar/restaurante) com boas opções de cerveja para acompanhar um cardápio de petiscos com nomes femininos: Flávia, Gláucia, Fernanda, Marta, etc... A casa oferece uma programação diária de boa música (do jazz à MPB). As proprietárias, Flávia Attuch e Marta Liuzzi, comandam o local desde 2011 e capricharam na carta de cervejas especiais.

Aberto em março de 2014 na 413 Norte, na mesma linha de gastropub, o Victrola oferece ótimas cervejas e um cardápio bem variado. O local é famoso pela boa música a partir de LPs, ou seja, os tradicionais “bolachões”. Para harmonizar com as várias opções de cervejas, o cliente tem acesso a uma discoteca diversificada e, em alguns casos, a exemplares raros de discos. Seus proprietários, Cristian e Alan, são orgulhosos de sua proposta de harmonização de cerveja, comida e música.

O casal Antonio Jorge e Luciana apostou no segmento cervejeiro em 2008 e já possui duas lojas do Empório Soares & Souza, uma na Asa Sul e outra na Asa Norte, com uma terceira a inaugurar em breve no Lago Sul. Misto de empório e bar cervejeiro, suas casas possuem mais de 400 rótulos e promovem eventos sobre a cultura cervejeira, tais como palestras, degustações, cursos, etc. O cardápio de petiscos é variado, destacando-se o combinado de coxinhas, salsichas e bruschettas com fatias de pão caseiro.

O Pivo abriu as portas no final de 2014, na 406 Sul, com a ideia de ser um empório de cervejas, mas se rendeu à demanda dos clientes por espaço para degustação dos mais de 300 rótulos. Os proprietários, Fábio Coelho e Gustavo Sanches, estão sempre presentes e garantem a hospitalidade e qualidade dos petiscos liderados pelas bruschettas e empanadas argentinas.



O Mestre-Cervejeiro é um empório localizado na quadra 301 do Sudoeste. A família Gomes – Fernanda, Amanda e Marcos – está sempre na loja, desde fevereiro deste ano, orientando os clientes na escolha da cerveja mais adequada, entre os 200 rótulos à disposição. Os acompanhamentos ficam por conta da La Creperie e do Brazilian American Burguer, vizinhos e parceiros.

O mais jovem ponto cervejeiro de Brasília é o Aleatório, na 408 Norte, aberto no mês passado. A proposta dos sócios Allan Alves, Felipe Lucena e Juliana Neto é que o local seja um espaço de convergência cultural-etílico-gastronômico. O conceito é inovador e tenta unir os ambientes de bar e de galeria, para atrair as pessoas desligadas e as ligadas em música, cerveja e artes em geral. O alternativo está presente no cardápio, na decoração, no espírito colaborativo de seus frequentadores.

O Beer Selection é uma referência em se tratando de cervejas belgas, mas não se restringe a elas. Ali pode-se degustar também marcas inglesas, americanas e alemãs. O Jacques garante um atendimento vip para uma happy hour em local pouco provável, o Complexo Brasil 21. Com algumas torneiras de chope, sempre conta com ótimas opções estrangeiras e nacionais.

Os sócios André Ricardo e Dercino iniciaram as operações do Camberra, na quadra 100 do Sudoeste, em dezembro de 2014, com muitas opções no portfólio. Como empório de cervejas e sem instalações para cozinha, também contam com uma parceria com o bar vizinho, o Espaço Sudoeste.

Um típico pub irlandês tem sempre um palco para música ao vivo, decoração rústica e uma boa oferta de cervejas, entre elas a obrigatória Guinness. É assim o O’Rilley Irish Pub, da 409 Sul, que desde 2005 é a referência brasiliense em shows de bandas cover e rock em geral. Em três andares, com ambientes aconchegantes, é possível se sentir na Irlanda com a mesma atmosfera íntima e selvagem regada a excelentes cervejas.

Milhares de cervejeiros comparecerem ao Espaço Arena do Estádio
Mané Garrincha, no início de setembro, para participar do Bierfest,
maior festival de cerveja do Centro-Oeste.


Num ambiente bastante intimista, o Bar Godofredo é um dos mais antigos de Brasília a apostar nas cervejas especiais. Seu proprietário, Aylton Tristão, já está com dois bares – o tradicional, na 408 Norte, de ambiente retrô, e o mais recente, chamado de Boutique do Godofredo, mais moderno, na Avenida das Araucárias, em Águas Claras. Ambos com bastante variedade de cervejas e petiscos.

O Mr. Beer é uma boa opção para quem transita pelo Brasília Shopping. Apesar de não ser um bar, possui uma ótima carta de cervejas especiais, incluindo alguns rótulos exclusivos. No balcão é possível degustar uma cerveja com alguns salgadinhos.

Ou seja, Brasília não é mais uma principiante no mundo das cervejas especiais.

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