segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Cerveja cara

Coluna Happy Hour publicada por Ronaldo Morado na Revista Roteiro em 15/12/2015

“Não deixem faltar cerveja boa e barata a meu povo e evitaremos revoluções.”
Rainha Vitória (Reino Unido 1819-1901)

Ultimamente temos falado e ouvido falar do “boom” das cervejas especiais no Brasil, mas o assunto tem vindo acompanhado da questão preço. E muitas pessoas tem me questionado a esse respeito e me solicitado para abordar o tema.

Em primeiro lugar, vamos analisar alguns fatores que influenciam o custo do produto. Das matérias primas envolvidas, apenas o lúpulo é importado. Mas o malte de cevada, mesmo o de produção nacional, acompanha a cotação internacional. Ou seja, a variação do cambio afeta o custo direto da cerveja.

Os outros custos industriais, assim como os custos indiretos, são rateados pelo volume total da cerveja produzida. Quer dizer, quanto maior o volume de produção, menor é o custo agregado a cada litro. Em outras palavras, se produzo pouco volume o custo que recai sobre cada litro é maior.

Só essa questão (de custos) já explica porque uma cerveja produzida por pequena cervejaria é mais cara que outra produzida por grande cervejaria. A segunda parte da explicação tem a ver com ingredientes. As receitas das chamadas cervejas “especiais” (em geral as que não são Pilsen) contém outros ingredientes, além de malte e lúpulo, como temperos, frutas, chocolate, etc... Aumentando o custo unitário ainda mais.

E, finalmente, temos a crueldade tributária brasileira.

Por um critério polêmico, a tributação sobre bebidas no Brasil parte do principio de que toda a cadeia produtiva, distributiva, comercializadora e consumidora de bebidas é sonegadora. Sendo assim o fabricante deve recolher os impostos de toda essa complexa rede de empresas. Ou seja, os impostos pagos pela cervejaria são calculados sobre o valor de venda da bebida no ultimo ponto da corrente: o consumidor. Desse raciocínio perverso, resulta que cerca de 70% do preço de venda da cerveja na porta da fábrica são impostos, recolhidos na fonte.

Dessa forma a cerveja “especial”, que é o nicho de mercado dos pequenos fabricantes, chega ao consumidor com um valor três vezes maior do que poderia chegar. E, aproveito para esclarecer: o parâmetro não é a qualidade, já que todos os fabricantes, pequenos ou grandes, cuidam da qualidade de seus produtos indiscutivelmente.

As diferenças são como presunto comum x Parma; uísque comum x uísque 12 anos; espumante comum x Veuve Clicquot; etc.

Como em ultima instância o que se apresenta ao consumidor é a experiência sensorial, ficam postas as questões fundamentais: o beneficio/custo compensa? O valor agregado em uma cerveja “especial” vale a pena o preço adicional? Estou disposto a pagá-lo? Espero ter ajudado na compreensão das diferenças “especiais”.

Saúde.

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